Resolvi inaugurar a categoria “Recomendo” com dois livros da mesma autora.
Meu interesse pela Leonel Shriver começou quando eu trabalhava em uma livraria. Sempre achei a capa de Precisamos Falar sobre Kevin muito intrigante e, ao ler a resenha, fiquei curiosíssima. O problema de conviver diariamente com livros é que sempre existem um milhão e tantos outros que eu “sempre quis ler”, e os novos ficavam para depois. Quase um ano depois, passeando por esta mesma livraria, eis que o encontro com desconto. Não pensei duas vezes, comprei e na mesma hora comecei a ler.
Conforme a leitura avançava, fui entrando no mundo de Eva, Kevin e sua família com uma curiosidade mórbida, chocada e maravilhada. Li alguns textos falando que a história trata da ausência dos pais na educação dos filhos. Vi de um modo diferente: para mim, o livro mostra como o relacionamento entre pais e filhos pode ser muito mais complexo do que acreditamos. A autora desconstrói a ideia da maternidade como um momento mágico, único e especial e mostra que a ideia “amor incondicional” não é necessariamente verdadeira.
Algo que chamou muito a minha atenção foi a pesquisa que Shriver fez sobre os casos de adolescentes que realizam massacres em escolas e universidades norte americanas. As referências de histórias verdadeiras, o retrato psicológico dos personagens, os detalhes do relacionamento dos membros da família. Tudo é tão forte, humano, verdadeiro, que fui pesquisar se não era realmente uma história verídica. Não é.
Muitas pessoas me perguntam: o livro é muito pesado? Sim, é muito. Me consumiu demais. Mas nos quatro últimos capítulos, principalmente, eu não conseguia parar de ler. Fui dormir de madrugada vários dias seguidos porque queria saber como acabava a história. Como me recusei a ver o filme ou ler qualquer coisa sobre ele antes de acabar, eu não tinha ideia do final (de tirar o fôlego, aliás).
Quem gosta de uma leitura mais leve, talvez não consiga chegar até o fim do livro. Perdi o ar algumas vezes, senti o estômago comprimido e o coração acelerado. Fiquei espantada, surpresa, diversas vezes. Quando acabei de ler, tiver que passar algum tempo digerindo tudo o que havia acontecido, entendendo os personagens, processando os fatos.
Foi então que, contaminada por este livro, comprei também O Mundo Pós-aniversário. Os dois livros são muito diferentes e muito parecidos ao mesmo tempo. Shriver entra nos personagens e nos assuntos abordados com a mesma profundidade, em narrativas bem distintas.
Fiquei muito surpresa quando, ao terminar o primeiro capítulo, havia dois capítulos 2, dois capítulos 3, dois capítulos 4 e assim por diante. A partir da história das primeiras páginas, a vida de Irina McGovern se desenrola de duas maneiras completamente diferentes com desfechos inesperados. Os capítulos opostos fazem um paralelo da vida da personagem a partir da decisão que ela toma no primeiro capítulo.
Mais uma vez a autora me surpreendeu com a profundidade e os detalhes. As duas histórias do livro são igualmente envolventes e por muitas vezes eu “virava a casaca”, concordando e discordando com uma ou outra decisão de Irina. Fiquei pensando como muitas vezes ficamos perdidos quando precisamos tomar uma decisão importante na vida, com medo de escolhermos a errada, sendo que, no fim das contas, não existe certa ou errada.
O que mais me atrai nos livros de Shriver é a maneira como ela nos envolve com os personagens. A raiva, a indignação, a dúvida, o nervosismo... muitas vezes eu não sabia quais eram os sentimentos dos personagens e quais eram os meus. A sua pesquisa vai muito além de apenas fatos, datas e ideias, ela faz uma pesquisa psicológica muito profunda para montar seus personagens.
Ainda não sei quando vou deixar esses livros por aí. Acho que vou lê-los mais uma vez ainda, até conseguir me desapegar.