Quando desci, o taxista já estava a minha espera. Toda atrapalhada, atravessei a rua com mala, mochila e bolsa. Gentilmente ele desceu do carro para me ajudar. Ao abrir o porta-malas, fiquei surpresa: estava cheio de livros espalhados.
"Nossa, parece o meu carro, cheio de livros.", comentei.
Ele riu e respondeu: "É, é para um projeto".
Ao entrar no carro o taxista contou que achou na internet vários projetos, em São Paulo e outros lugares do mundo, nos quais as pessoas deixavam livros pelas cidades: metrôs, paradas de ônibus, bancos de praça. E que, ao ver tantos livros em casa e pouco espaço para guardá-los, ele resolveu deixar os dele por aí também.
Meu rosto se iluminou! Fiquei louca para interrompê-lo, perguntar se ele conhecia nosso blog e o que ele achava, mas resolvi escutar.
Quando senti uma brecha na fala dele, comentei primeiro sobre o
T-Bone, açougue cultural que coloca livros em paradas de ônibus de Brasília. Achei que se eu chegasse falando do nosso projeto, ele se assustaria ou pensaria que eu estava inventando só para puxar assunto. Ele achou a iniciativa muito legal e disse que gostaria muito de vir à cidade para conhecer.
Foi aí que Seu Oswaldo* contou que não gostava muito de ler. Até que um dia, quando trabalhava na construção civil e foi enviado para uma obra em Campos do Jordão, encontrou páginas de um livro de autoajuda. Resolveu ler essas páginas sem compromisso. Quando voltou à São Paulo, procurou o livro completo para ler o resto. Não parou mais. Leu vários e vários livros desse gênero.
"Dizem que livro de autoajuda só ajuda o autor, né?! Mas eu gostava muito. Na época fazia muito sentido para mim. Hoje não leio mais isso, perdeu a graça, mas passei a me interessar por outros livros."
Pela variedade de títulos que vi atrás dos bancos do taxi, Seu Oswaldo é do tipo que não tem preconceitos ao ler. Clarice Lispector, Augusto Cury e livros sobre teorias econômicas foram alguns que eu consegui identificar.
Não me aguentei e falei para ele sobre o blog. Ele adorou a ideia e disse que acredita, realmente, que um livro pode mudar a vida de alguém. Contou de um mendigo em São Paulo que, um dia, encontrou um livro e se apaixonou. Como não tinha condições de comprar mais alguns e nem o deixavam entrar em bibliotecas, saiu pela cidade procurando alguém que lhe doasse livros. Resultado, criou uma "bibiteca", uma biblioteca em cima de uma bicicleta, que levava livros a moradores de rua. O mendigo, hoje, faz palestras em vários lugares do mundo sobre seu projeto.
Seu Oswaldo fez eu me lembrar do porquê entrei nesse projeto com a Jeanne e as meninas. Pode ser que a gente não mude a vida de ninguém, mas tenho certeza de que, pelo menos, faremos algumas pessoas terem um dia mais especial.
*Nome fictício, eu realmente me esqueci qual o nome dele (graças a minha memória de peixe dourado).