Há dias rodo com este livro dentro da bolsa. A história, já sei de cór, li três vezes. Um dos poucos livros, aliás, que li mais de uma vez. Para uma pessoa ansiosa como eu, que quer fazer tudo ao mesmo tempo, é quase impossível repetir uma leitura: afinal, existem tantos livros para ler no mundo ainda!
O título? Dom Casmurro. Acho que nem preciso dizer que é do Machado de Assis, né? Aliás, isso agrava todo o cuidado que estava tendo para escolher o lugar onde deixá-lo. Machado de Assis é, para mim, o melhor escritor brasileiro de todos os tempos. Ele está para a literatura assim como o Chico Buarque está para a música (ou seja, ídolo, muso, galã, paixão, inspiração e todos os adjetivos que uma tiete frenética poderia usar).
Passei por vários lugares, pensei, pensei, pensei e nada me ocorria. O livro é uma história de amor, mas, bem, com um final não tão feliz... Não dava para deixar num banquinho de praça, nem num parque. Mas também não seria legal deixar num banco, num restaurante ou coisa assim. Tinha que estar em algum lugar onde quem pegasse estivesse preparado para desvendar o maior mistério da literatura brasileira: afinal, Capitu traiu ou não traiu Bentinho?
Foi então que minha mãe me deu a luz! Não essa luz que estão pensando, essa ela me deu há 27 anos atrás. Ela só me pediu para ir ao supermercado. E por que não o supermercado? Como não havia pensando nisso antes? Gente, o supermercado é o local mundial da procura por diversão. Se vamos sair, passamos para comprar bebida; se vamos assistir um filme, passamos para comprar pipoca e refrigerante; se vamos fazer um jantar, nem precisa falar; se queremos afogar as mágoas, a sessão de doces está lá, sempre a nossa espera também. Genial! Mas agora o drama é: onde colocar dentro supermercado?
História de amor... bom, talvez a sessão de champagnes? Melhor não, como eu disse, o romance não tem um final tão feliz assim. Já estou vendo a cena: o cara chega para comprar um champagne e levar para seu jantar romântico, cheio de amor para dar. Dá de cara com o livro e resolve dar uma lidinha, para distrair. Ao se deparar com as suspeitas de Bentinho, olha para um lado, para o outro e pensa: será um sinal? Será que alguém está tentando me dizer algo? Não, não, não quero acabar o romance de ninguém com meu livro.
Acho que vou para a seção dos pães, porque não existe nada mais sem paixão e sem glamour do que pão, né? O pão, aquela massa de trigo com gosto de nada (ou, dependendo do padeiro, de sal), entra na casa de todo mundo, não importa a ocasião. Mas não... quem vai no mercado atrás de pão não está disposto a desvendar o segredo de Capitu. Quer, no máximo, sabe se o cara do Big Brother estuprou ou não a menina.
E é aí que dou de cara com a pipoca! Sim, a pipoca! Vamos atrás de pipoca quando queremos assistir um filme, não é mesmo?! Então, por que não trocar filme pelo livro?! Claro! A pipoca, companheira de dramas, mistérios, terror, comédias, romances e etc. A pipoca será então.
Dessa vez foi tão natural. Fingi que estava escolhendo uma pipoca, tirei o livro da bolsa, coloquei no meio delas e saí. Não esperei para ver se alguém ia pegar. Achei melhor não saber, vai que não gosto da cara da pessoa? Ia querer pegar Bentinho e Capitu de volta. Não, não, melhor contar com a bondade do destino. Paguei minha conta e fui embora.
Só uma coisa que esqueci de contar. Meu bilhetinho, dessa vez, foi diferente. Espero que quem encontre me responda uma pergunta que eu, até hoje, não desvendei: afinal, traiu ou não traiu?
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