Confesso que nem esperava ter uma história para contar hoje. Pensei: levo o livro para a academia, deixo ali no sofá do subsolo onde vai menos gente e vou embora. Mas é claro que as coisas não sairiam como pensei.
Cheguei na academia e dei de cara com um aviso enorme dizendo que o subsolo estava interditado para reformas. Tudo bem, ainda havia o sofá do segundo andar. Malhei, corri, tomei meu banho e, quando penso em deixar o livro no outro sofá, descubro o segundo andar LOTADO por conta de um esquenta de carnaval: aula de Ritmos bombando e uma mesa de café da manhã enorme. Resolvi arriscar.
Sentei no sofá, tirei o livro, coloquei minha bolsa em cima e minha mochila no chão. Enfiei um pouco o livro no canto do sofá para não fiar muito evidente quando eu levantasse. Mas quando estou pensando em ir embora, encontro um amigo que não via há uns 6 anos. Não dava para simplesmente dispensá-lo. Conversa vai, conversa vem, ele senta do meu lado e eu quase amasso o livro para tentar escondê-lo. Até fiquei com vontade de revelar para ele minhas atividades clandestinas, mas achei melhor não, até porque seria muito legal se ele encontrasse.
Bom, mas enfim ele levantou para malhar, esperei um pouco e saí, na maior naturalidade. As pessoas estavam tão entretidas com a farra que estava acontecendo que acho que vão demorar a descobrir o livro ali, enterrado no sofá.
O livro foi Morte e Vida Severina, do João Cabral de Melo Neto. Li o livro lá pela oitava série, primeiro ano, exigência da escola. E
digamos que não seja um livro que atraia muito um adolescente. Não me lembro quem, na época, me dava aula de literatura. Quem quer que seja, me fez enxergar uma das obras mais bonitas da literatura brasileira. E olha que não sou uma pessoa tão fã de poesia. Não digo que não gosto, simplesmente não nasci para ela. Mas este livro é diferente, principalmente quando, depois de lê-lo, assiste-se o filme homônimo, onde versos de João Cabral foram musicados por Chico Buarque. Espero, sinceramente, que a pessoa que o encontre goste tanto quanto eu!
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